domingo, 10 de outubro de 2010

(...) dicionário de amor.

Conseguir admitir que realmente estamos apaixonados é algo que poucas pessoas se podem louvar.

Conseguir sentir que realmente precisamos e nos sentimos bem com alguém, sentir que o perfume dessa pessoa nos faz conjugar as nossas duas almas numa só, sentir que quando cruzamos as mãos é quase como se estivessemos a juntos dois corpos num só, admitir que desde o momento que conhecemos essa pessoa começamos a sentir o chão fugir-nos do chão, começamos a pensar que haja possibilidades de nos sermos felizes, e o mais importante de tudo, começamos a acreditar no amor.

Pensamos que podemos voar, pensamos que qualquer dor seja distanciada pelas palavras doces que ouvimos e queremos acreditar que sejam sentidas, começamos a envolver-nos num mando de demonstração de afectos e carinhos infindável, começamos a por em causa qualquer impossiblidade de incompatibilidade que possa haver entre nós, começamos a sentir a conjugação de almas ... mas alguma vez pensamos que isto tudo não seja sentido mutuamente ?

Quando começamos a amar alguém não amamos só com o coração, amamos com todos os orgãos do nosso corpo, mas o coração e o nosso cérebro, é de todos os que sofrem mais. Enchem-nos o coração de melodias melosas, de palavras repletas de ternura, e quando inicamos uma nova jornada com o aliado amor, damos por nós, e temos o coração caído no chão, expezinhado, massacrada por tudo o que de pior pode acontecer. Quando voltarmos a receber o nosso coração e o nosso cérebro, vem de tal forma atrofiados... No coração guardamos novas cicatrizes, causadas por um alguém que por motivos que muitas das vezes nunca chegamos a conhecer, fez com que todos os sonhos, todas as palavras, todos os carinhos, deitassem por terra qualquer chance de alcançar uma saudável felicidade. No nosso cérebro, guardamos todas as porcarias que deveriam de ser descartadas, enpacotadas e deitadas foras da nossa vida. Apagadas, como fazemos no computador; o pior é que mesmo quando apagamos algo no computador, nunca fica completamente apagado, fica na reciclagem, que basicamente fica guardado noutro lugar, nunca desaparece mesmo.

É isso mesmo que deviamos de evitar. Nunca devemos guardar as nossas memórias, momentos, todas estas coisas, noutro lugar. Temos que conseguir ser fortes e seguir em frente.

Por mais sentimento que tenhamos nutrido por essa pessoa, por mais tempo que tenhamos perdido com essa pessoa, a afogar e a enganar o nosso coração de que talvez aquela pessoa seja a certa, essa pessoa e nós, não temos o direito de ficar acorrentados a um passado com cara mal lavada.

Ainda hoje é o dia em que me lembro de coisas que passei com pessoas que entraram na minha vida; ainda hoje é o dia em que muitas das vezes me vem as lágrimas aos olhos de pensar no que passei com elas; ainda hoje é o dia em que, forte, continuo a batalhar com os meus próprios fantasmas.

Ainda hoje é o dia em que tenho saudades, ainda hoje é o dia em que não entendo o coração.

Ainda hoje é o dia em que não encontrei um dicionário para a fala do coração (...)

3 comentários:

  1. brilhante. fantástico. parabéns Hélder. :') está lindo.

    - pedro rei

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  2. "Apagadas, como fazemos no computador; o pior é que mesmo quando apagamos algo no computador, nunca fica completamente apagado, fica na reciclagem, que basicamente fica guardado noutro lugar, nunca desaparece mesmo." gostei imenso desta perspectiva :)

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  3. Adorei o texto :O
    E tens razão, apetece apagar certas coisas, mas não dá. :X

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